domingo, 18 de agosto de 2013

Cornerstone.

Engraçada é a maneira como um certo musculo, quando partido, altera toda a nossa prévia percepção do que nos rodeia.
Engraçada é a maneira como um certo musculo, quando destruído, nos afia os sentidos e consegue contradizer tudo o que esses mesmo sentidos nos transmitem.
Engraçada é a maneira como um certo musculo, quando devorado e cuspido, deixado à mercê de outrem sem a mais misera das piedades, nos torna simultaneamente mais fortes e, no entanto, nos transforma numa mera pálida sombra do que outrora fomos.
Engraçada é a maneira como um certo musculo, quando esmagado, requer, necessita, pede e suplica por todo o conforto necessário, enquanto repudia todas as tentativas de conseguir obter esse mesmo conforto.

É atormentador passear pela rua e alucinar a cada esquina. Todos os rostos são exactamente os mesmos, o teu. Todas as ruas são exactamente as mesmas, a tua. Todas as conversas são exactamente iguais, as que tive contigo. Todos os cigarros sabem da mesma maneira, como quando os fumava contigo.  Cada palavra, toque, som, luz, minima interação com o mundo relembra-me de ti, de nós, do que eramos, do que somos, do que podiamos ainda ser, e do que deviamos ter sido.

Chamo a todas essas pessoas pelo teu nome, na esperança que uma me responda e sejas tu. Olho-as nos olhos, e todas me lançam desdém e escarnio com o olhar, pois não querem que as chame assim. Encontro uma cara diferente, embora deveras similar à tua. Esboço um mero sorriso, enquanto me aproximo dela e lhe dou a mão. Ela estava agora perto de mim, de tal maneira que seria impossível estar ainda mais. Apago o cigarro, que continuava com aquele atormentador sabor, e encosto a minha cabeça no ombro dela. Com uma restia de piedade, ela deixa-me chama-la pelo teu nome, e assim ficamos naquele banco de jardim durante horas a fio. Não foi certamente o mais acertado que fiz, mas foi simplesmente o necessário para manter a pouca sanidade que resta.

Engraçada é a maneira como certo musculo, quando estilhaçado, nos permite observar para além de ver, e ao mesmo tempo nos tolda completamente a visão, ofuscando a mais clara das realidades e tornando nitída a mais perfeita das alucinações.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Os invisuais também amam.

Adoro momentos espontâneos de inspiração. Retiram-me todo o fardo de pensar, algo que me molda o comportamento e me impede de ser quem realmente sou. São basicamente estes raros e preciosos momentos que me impelem a escrever, pois o mero facto de já saber o que vou transcrever para a eternidade é um completo e total alívio, sendo que, e novamente, pensar tornou-se cada vez mais um fardo.

Assim sendo, fui atingido por mais um raciocínio esplendoroso que só poderia surgir de um intelecto superior e de qualidade e valor inigualável. Tão incríveis são estes meus lapsos de pura genialidade que pondero quase seriamente e com relativa preocupação se não será um desperdício não utilizar este meu maravilhoso cérebro e o que realmente aconteceria se me dignasse a utilizar todo o meu potencial neurológico. Sei que todos vocês aguardam impacientemente por esse dia, no qual deixarei toda a minha fabulosa espectacularidade fluir por todo o meu eu corporal e transcrever todos os meus pensamentos para este belíssimo espaço cibernético, de maneira a que todos se deleitem com as minhas obras e atinjam magnânimos orgasmos múltiplos durante 3 ou 4 dias, ou que simplesmente curtam buéda tótil. Mas, como na verdade quero mais é que vocês se fodam, não vos irei proporcionar momentos de tal belo prazer sem um espaço temporal relativamente alargado.

Após toda uma introdução enfadonha, ridícula e com alguma componente sexual à mistura, chegamos por fim à altura em que não consigo empatar muito mais de maneira a que esta obra-prima literária pareça bastante maior do que realmente é. Assim sendo, o momento que todos anseiam, o revelar do meu soberbo raciocínio, que contrasta com todo o teor do que escrevi até agora. Mas eu sou assim, parvo. Desculpem-me. Ou não, sinceramente não me interessa.

Dou por mim novamente a ser alvo de um acentuado problema de ego, de tal maneira que vou novamente discordar de algo previamente estabelecido na ridícula sociedade em que vivemos, da qual eu sou o único iluminado e defensor da verdade e dos oprimidos, não fosse eu o Homem-Aranha. Uma bela frase, que, seriedade à parte, serve muitas vezes de desculpa para pessoas cujos atributos estéticos são, digamos, escassos, inexistentes ou cujas faces são fruto de negligência médica aquando da realização de um aborto, a tão proferida "O amor é cego".

Não. Simplesmente não.

O amor pode ser tudo, maioritariamente um palerma até, mas de cego pouco ou nada tem. O amor tem, sim, a capacidade de moldar e alterar definitivamente a nossa opinião sobre a aparência da pessoa por quem o sentimos. Um exemplo prático para vós, acéfalos, de maneira a que a mensagem seja entregue devidamente. Um homem pode muito facilmente achar uma mulher pouco atraente da primeira vez que interage com ela, mas à medida que esta apaixonante doença se alastra, o principal sintoma será sempre o decrescer da "feiosidade" da mulher. Só assim um homem poderia conseguir dizer que a mulher era feia antes de se apaixonar por ela, para depois a mesma se metamorfosear no maior espectáculo estético que ele alguma vez presenciou. O homem saberá sempre que inicialmente achou a mulher feia, mas simplesmente tornou-se incapaz de alguma vez a voltar a considerar algo menos que perfeita aos olhos dele.Se o amor realmente fosse cego, o homem continuaria a ter uma opinião negativa sobre a aparência física da mulher e ama-la-ia na mesma, não a alteraria. O amor não é cego, o amor torna tudo belo.

Ou se calhar estou completamente errado. Muito provavelmente este pensamento advém duma pura e benevolente esperança que a  minha teoria seja verdade, senão começo a considerar seriamente uma intervenção cirúrgica a esta cara de bode semi-morto, viciado em drogas pesadas, que foi atropelado por um autocarro e andou à deriva durante 6 meses no deserto. Ou posso sempre fazer 6 tatuagens do Bieber.