terça-feira, 27 de novembro de 2012

Problemas de ego.


O meu acentuado problema de ego atinge neste momento proporções épicas. Apesar de eu nunca o ter considerado um problema, visto achar que tenho todos os motivos para assim o ser, deparo-me neste momento a alcançar todo um nível de espectacularidade proclamada por mim acerca da minha pessoa mesmo ao ponto de discordar com dois verdadeiro fenómenos da escrita portuguesa, Fernando Pessoa e Luís de Camões.

Discordo quase completamente duma ideia suportada por este grande senhor, que o poeta/escritor é o verdadeiro fingidor, capaz de transcrever para o papel sentimentos que naquele preciso momento não o invadem. Disso não discordo, eu mesmo já o fiz, mas posso argumentar acerca da qualidade dos mesmos. Pois o que será um texto de teor sentimental quando a nossa alma, o nosso coração, não é também transcrito? Inversamente, o que será um texto de teor cómico quando apenas somos invadidos por tristeza?
Certamente todos os escritores são fingidores, e eu, sempre e completamente humildemente, considero-me um escritor, pelo que me sinto na perfeita posição para filosofar sobre este assunto. Fingir só nos leva até certo ponto. Todos nós a qualquer momento atingimos um ponto de ebulição no qual revelamos a nossa verdadeira identidade, e damo-la a conhecer ao Mundo. Um texto de teor cómico nunca atingirá o seu expoente máximo de qualidade quando a mente divaga por caminhos mais obscuros e trespassa a barreira do fingimento. Qualquer escritor deixa um bocado da sua verdadeira alma em cada obra, por mais insignificante que essa obra seja. A alma, tal como o estado de espírito, é mutável. Quem é possuidor da magnânima capacidade de ler nas entrelinhas e observar para além daquilo que simplesmente vê, conseguirá encontrar sempre traços do verdadeiro humor que o escritor sentia no momento preciso em que escreveu a dita obra. Mais não seja pela qualidade do mesmo, pois a tão necessária e indispensável inspiração não está a ser utilizada da maneira devida.

Relativamente a outra exímia frase, também da autoria de um grande génio semântico, a tão proferida “Amor é fogo que arde sem se ver”, permitam-me também discordar. Quando o dito amor é puro, cru e indomado, a tal chama metafórica é incontrolável, ao ponto de queimar tão dolorosamente que será sempre visível. Poderias argumentar que isso seria a paixão, mas o que é o amor sem paixão? Sem o desejo incontrolável, a constante necessidade, o completo défice de lógica e toda uma ausência de racionalidade? Isso não é amor, é simples convivência com alguém por quem se detém um carinho especial, sendo que é possível controlar a nossa atitude. O verdadeiro amor deixa sempre marcas, tão distintas que são inconfundíveis e impossíveis de não reparar. Amor, quando é amor, é de tal maneira um fogo que atinge as proporções épicas de um incêndio mortal.

Desculpem-me Nando e Camões, mas desta vez vou discordar de vocês. É o que dá ser o maior.

2 comentários:

Komodoro disse...

Faltou ai no inicio referencia a Eça de Queiros. :P

Komodoro disse...

Sabes que no meio disso tudo, concordaste sempre com Camões. Apesar de o fogo no amor ser a paixão, das-lhe razão quando dizes que paixão sem amor nada é. Mas o amor contem paixão e tu sabe-lo apesar de não o dizeres, de tal modo, que até, vens a concordar que deixa marcas. Tanto desse fogo surge a tipicamente chamada "chama" existente entre duas pessoas, a tal "faisca", "química" whatever, chegas ao fim a concordar e não a discordar. Revê bem os teus pontos argumentais contra esse poema, já que citaste e criticaste unicamente a primeira liga desse mesmo poema. E depois aí perceberas que as "metáforas" servem para alguma coisa.
Noutro lado, estados de espíritos de escritores não se discutem Jovem. Devido ao facto que cada um emprega em cada obra sua, a sua maneira de viver e ver o "Mundo", como lhe chamas, da maneira que este próprio "sente". Digamos que se um pobre escrevesse um livro ele iria escreve-lo da maneira como sente o que quer escrever. Como tu próprio, escritor que és, és capaz de escrever tanto e de tal forma ambígua, que somente escreves dessa maneira e mais nenhuma. Digo-te mais, se tu próprio se te sentes capaz, filosofo que dizes ser, questionas apenas mas não repreendes a forma e maneirismos de um escritor, por muito mau que seja, tu próprio é que nada sabes sobre escrita.