Ouço a trovoada la fora. Tambem todo o meu eu corporal explode num turbilhao de sentimentos, alguns inexplicaveis, outros de facil esclarecimento. Algo nao esta bem, sinto-o no sangue. Sinto a falta de algo. A minha visao ja nao mais é a mesma, entorpecida pelos relampagos estonteantes. O corpo nao mais é o mesmo, enfraquecido pela peça essencial que lhe faz falta. Sinto como se um comboio tivesse chocado contra a parede que me protegia o coraçao, e agora a a tua entrada nao tem mais impedimentos. A muralha, outrora forte, esta novamente caída, e receio pelo pior. Temo que a historia se repita, o guiao seja demasiado parecido e o fim estupidamente previsivel. O som da trovoada aumenta, o ritmo cardiaco diminui. A chuva junta-se a este aparato de sentimentos, uns inexplicaveis, outros de facil esclarecimento. Apercebo-me que afinal ainda sou eu mesmo, o mundo mudou, embora eu permaneça na minha esfera existencial, na minha concha de protecçao. Sinto.me branco, tal como a luz que emane dos trovoes. Trovoes poderosos que me enfraquecem. o Mundo ja nao mais é o mesmo, entro numa sala e reconheço a cara de todos apenas para me aperceber que afinal nao conheço ninguem. Fecho os olhos, escuto atentamente. Sinto tudo à roda, o chao, as paredes, as pessoas. Berros enchem-me os ouvidos, sombras penetram-me os olhos, ofuscando-os inexplicavelmente. O sangue que me corre nas veias parece solido, pois todo o corpo me doi. A janela nao vai aguentar. O tempo e o espaço deixam de existir, junta-se tudo numa esfera dimensional. Abro os olhos. Sou o unico que permanece de pe, o vento arrepia-me e o cheiro a morte anda no ar. Caio no chao. Fecho os olhos lentamente, pois sei o que vem a seguir. O ribombar dos trovoes aumenta, o ritmo cardíaco cessa para nao voltar mais a existir.
Algo nao esta bem, sinto-o no sangue.
Algo nao esta bem, sinto-o no sangue.