A solidão não tem o merecido apreço.
Procuro por respostas. Não sei se o faço da forma correcta, nem sei se procuro no sitio certo.
Por norma procuro-as no fundo da garrafa. Não as encontrando, abro outra na esperança vã que essa as terá.
Não tem.
A seguinte também não.
Isso não impede a minha teimosia de continuar na busca eterna, garrafa apos garrafa, cigarro apos cigarro.
A solidão não tem o merecido apreço. Enquanto a grande maioria de nos teme a solidão, eu acolho-a de braços abertos e coração partido. A solidão é minha companheira fiel e de mim inseparável.
Estarei realmente sozinho quando a considero a minha mais fiel companhia?
Abro mais uma garrafa para obter a resposta.
Mais um fundo inócuo, insípido e vazio.
Talvez a próxima.
Provavelmente o cigarro actual.
Quem diria, continuo nu.
A solidão não tem o merecido apreço. Só estando realmente, absolutamente e totalmente sozinho, alguém é capaz de se conhecer a si próprio.
Essa é a verdadeira merda.
A solidão apresenta o maior perigo à estabilidade emocional de cada um de nós.
Todos nós temos a imagem perfeita, a mentira, de quem achamos que realmente somos. Aquando rodeados de outros, a mentira prevalece alem do aceitavel, do humanamente possivel. Estende-se além da logica, da razão, e das leis naturais.
Porque na verdade, somos todos uns cobardes e as pessoas que nos rodeiam são cobardes também.
Eu planeio algo mais para mim mesmo. Essa é a razão pela qual acolho a solidão de braços abertos, coração partido e provavelmente bebado.
Ninguem sabe melhor do que eu quem eu verdadeiramente sou, aquilo que sou ou não capaz e o que realmente quero. Rodeado por outros, a verdadeira imagem de cada um de nós é distorcida para apelidar à mais recente mania, à pessoa mais próxima, ao caralho que o foda.
Só quando estamos sozinhos podemos ser realmente quem somos.
A solidão não tem o merecido apreço. A solidão é sinonimo de liberdade, significa que estamos livres das amarras que colocamos em nós mesmos aquando da mentira que queremos contar sobre quem somos. Sós, livres das amarras, atingimos a catarse e o expoente máximo da nossa absoluta personalidade. Somos finalmente capazes de largar a mascara que usamos na tentativa vã de pertencermos a uma sociedade que nos despreza e se livrará de nós à primeira oportunidade.
Na verdade, estamos todos sozinhos. Uns simplesmente têm noção, outros são simplesmente idiotas.
Eu dou à solidão o merecido apreço. Serei provavelmente dos poucos. Essa é uma das razões pela quais estou bastante só. Tal como disse, os outros são simplesmente idiotas e rodeiam-se de gente que odeiam na tentativa de se sentirem menos solitários e de perpetuarem a mentira sobre quem realmente são.
Escolhem viver uma mentira feliz do que uma verdade cruel.
São fracos, cobardes.
Prefiro ser o melhor eu que consigo ser do que a mentira nojenta que os outros pensam que sou.
É um caminho solitário. Mas verdadeiro.
A unica coisa que me faz questionar a minha opção é a constante hemorragia.
A dor perpetua.
A escuridão constante.
Questiono-me se a opção estará correcta.
Sem resposta, abro outra garrafa.
Que surpresa, o fundo desta encontra-se desprovido de respostas.
Provavelmente a próxima.